Edifícios criam bolsão de vigilância
14/11/2009 08:32
Edifícios criam bolsão de vigilância |
Quando a possibilidade de ficar sob a mira de uma arma aumenta, a segurança vira prioridade em condomínios de alto padrão. E isso acontece principalmente naqueles localizados em bairros visados pelas quadrilhas de arrastões, caso do Morumbi e dos Jardins, ambos na zona sul de São Paulo. Cientes de que os sistemas eletrônicos de segurança mais avançados não resolvem inteiramente a questão, os síndicos buscam em parceria com as empresas do ramo novas fórmulas, muitas vezes experimentais, de proteção. "O que vale nessa hora é escolher uma fórmula eficiente, mas com bom senso", diz Ivan Lencek, consultor e dono de uma empresa de segurança. Restringir a saída de babás e de menores de idade, cadastrar com foto todos os visitantes e promover revistas são algumas medidas adotadas. Numa rua próxima da Avenida Paulista, os moradores foram além. Instalaram um esquema pioneiro que interliga a segurança interna e externa de seis prédios vizinhos, formando um bolsão de segurança. Os edifícios envolvidos começaram instalando equipamentos que possibilitassem a interligação das câmeras de circuito interno, para permitir que o vigia passasse a ver e a ouvir tanto a rotina do prédio onde trabalha como a dos vizinhos. O som só é ativado para esclarecer alguma imagem suspeita que possa aparecer na tela do monitor. O sistema é aliado a uma rotina de ronda feita pelo rádio, ativada a cada meia hora. Ela funciona por códigos. Situações de risco, de pânico ou de tranquilidade ganham novas senhas diariamente. O comando da ronda muda na mesma frequência, ou seja, há um rodízio dessa liderança entre os prédios. "A inteligência é a melhor estratégia em segurança. Não aconselho colocar armas na mão de vigias", diz Antonio de Andrade, ex-oficial do Exército, responsável pelo planejamento do bolsão. "Ela vira um chamariz para o assaltante que está de olho no armamento. Além de tudo, quando um vigia precisa puxar a arma é porque a segurança falhou." Os edifícios também recebem imagens de vários pontos da rua. "E, por isso, diminuíram até os assaltos a pedestres e automóveis estacionados no quarteirão", diz Igor Melo Lima, síndico de um dos prédios. Há quatro anos, a média era de cinco ocorrências por semana na região. Agora, caiu para uma a cada dois meses. "Tivemos um recentemente, mas a moradora do prédio facilitou. Ela ficou namorando dentro do carro. Nos dias de hoje não pode." Os números de assaltos e furtos caíram porque os porteiros dos prédios acabaram monitorando o movimento da rua de suas cabines blindadas. E, sempre que percebiam algo estranho, ligavam para a polícia. "Os chamados foram tantos no início que a polícia passou a fazer rondas frequentes. E ainda tomaram conhecimento do bolsão, o que hoje em dia facilita muito na rapidez com que somos atendidos", diz Andrade. REVISTA Esse tipo de iniciativa dá certo no centro da cidade. Em bairros afastados, onde os condomínios não contam com a presença de prédios vizinhos, o jeito encontrado pelos síndicos foi usar rigor extremo no controle de acesso de visitantes, trabalhadores e prestadores de serviço. Chegam mesmo a situações constrangedoras, como a de revistar funcionários quando são demitidos. No Morumbi, um condomínio com uma área de 239 mil metros quadrados e rotatividade de 2 mil pessoas por dia, a saída foi investir num contingente de 125 vigias. Os visitantes só entram se o morador passar um e-mail com seus dados, incluindo a placa do carro. Todos os funcionários, mesmo os contratados pelos condôminos, são cadastrados com foto. Na saída, visitantes e prestadores de serviço recebem orientação para abrir o porta-malas do carro para os seguranças do condomínio. Depois que uma quadrilha sequestrou a neta de três meses e a nora da empregada de um apartamento para conseguir entrar num prédio de Moema, zona sul, neste ano, muitos condomínios mudaram as normas em relação às empregadas domésticas e babás. Num deles, as primeiras perderam o poder de autorizar qualquer pessoa a entrar no edifício. Só o morador pode fazer isso. As babás estão proibidas de sair com as crianças para a rua, a não ser que tenham em mãos uma autorização por escrito dos pais. E, assim, os carrinhos de bebês, que davam um ar de tranquilidade à vizinhança, começam a sumir das ruas, por questão de segurança.
Fonte:Estadão |
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